Sempre
li e re-li, ao mesmo tempo que buscava refletir e praticar a oração.
Tive, inclusive, a ciência de que não adiantaria ler sem praticar;
por outro lado, sabendo que “não oramos como convém”, quis ter
uma concepção bem formada, definida e fundamentada sobre o ato de
orar. Aprendi, assim, que orar seria essa via de mão dupla, entre a
prática e o aprendizado do que se diz sobre ela, principalmente no
tocante ao texto sagrado.
Quando
vi que o novo livro de Carlos Queiroz abordaria uma temática
referente à oração, imediatamente e involuntariamente pensei: “já
falaram tanto sobre oração, todavia, tenho certeza que Carlinhos
trará uma reflexão nova e equilibrada”, e foi, exatamente, essa a
minha concepção inicial e final acerca da obra. Faço questão de
lembrar que esse breve comentário não possui caráter acadêmico,
trata-se apenas de um pequeno texto, costumeiro, ao final de minhas
leituras.
Em
“A oração nossa de cada dia”, Carlinhos mantem o estilo que me
cativou logo na minha primeira leitura de seus escritos, “As faces
de um mito”; somando a isso uma hermenêutica equilibrada, tendo
como inspiração maior a fugura de Jesus Cristo de Nazaré, como ele
mesmo gosta de chamar. Não busquei, com essa leitura, aprender a
orar, mas sim, buscar contribuições para minha vida com Deus
através da oração. Encontrei uma reflexão bem fundamentada acerca
da oração do pai nosso, fazendo uma ponte com a nossa vida diária
e desvinculando essa oração do padrão religioso, que transformou-a
em uma mera liturgia e, por que não dizer, em moeda religiosa.
Assim, é resgatada a perspecctiva de Jesus, tendo a oração como um
estilo de vida e não como um monólogo de um homem para com a sua
divindade. Aprendemos com o mestre a não só orar o pai nosso, mas a
viver o pai nosso.
Reflete-se,
também, logo no início do livro sobre como não devemos orar, nesse
ponto, somos lembrados dos ensinamentos de Jesus acerca dos
hipócritas, que oram em pé, nas praças, com a finalidade de serem
notados. Logo não oram com o propósito de estabelecer um
relacionamento com Deus, mas de ganharem a glória dos homens, querem
ser reconhecidos como espirituais, quando, na verdade, estão imersos
em um profundo poço de hipocrisia. Tais pessoas, geralmente, são
donos de um perfil arrogante, que apontam o erro alheio, para
encobrir os seus próprios; estão sempre mais preocupados com os
seus ritos do que com pessoas, veja-se isso quando Jesus cura em um
sábado, não importava se alguém alcançou uma graça de Deus,
importava que as suas tradições e liturgias não fossem violadas.
Todavia, somos lembrados, pelo próprio Jesus, que essas pessoas já
obiveram sua glória ou recompensa. (Mt
6. 5).
Portanto,
aprendemos a orar, não para alimentar o nosso ego, mas para
reduzí-lo, nos esvaziando de nós mesmos e nos enchendo da
intimidade que o pai nos proporciona, e ele nos convida para essa
intimidade, não para entrar no nosso quarto convencional, mas no
tameion,
onde está a bagunça da nossa vida, onde pessoas estranhas ou pouco
íntimas jamais entrariam. Jesus, aqui, figura como aquele que é tão
íntimo, que não só entra no nosso tameion,
mas, também, é quem o organiza. Cada frase, cada prece, que se faz
na oração do pai nosso é uma oração que nos ensina a viver da
maneira que Jesus Cristo de Nazaré ensina aos seus discípulos,
relembrando que vivemos o Reino de Deus e dessa forma, a sua vontade
prevalece sobre a nossa,. Aassim, o papel da nossa oração é
interceder para que a vontade de Deus se cumpra em nossas vidas,
tendo em mente que, a vontade dele é sempre melhor e superior à
nossa, haja vista todo o tamanho da sua onisciência.